terça-feira, 11 de março de 2008

Fala inicial de ALBARI ROSA - fotógrafo do jornal Gazeta do Povo

Fala inicial de ALBARI ROSA - fotógrafo do jornal Gazeta do Povo - durante a apresentação da mesa “Daqui para o Mercado?! Demandas e mudanças na realidade profissional” (10/03)

Transcrição por Anna Carolina Azevedo

“Dentro desse assunto de mercado de trabalho, eu acho que a fotografia tem mercado (...). O Paraná, por exemplo, não tem uma agência de fotografia de notícia. Os jornais e os veículos de comunicação de outros estados, que precisam de imagens do Paraná, ou recorrem à Agência do Governo ou recorrem à da própria Gazeta do Povo - que não é propriamente uma agência; ela tem parceria com as maiores agências do Brasil e do mundo. Esse mercado pode e deve ser explorado por um grupo de repórteres fotográficos que até hoje, não sei por que, não conseguiram se articular, se organizar pra criar uma agência desse tipo.

O Paraná tem um potencial muito grande. Tem muitas notícias que acontecem no estado todo e que tem peso nacional. Volta e meia, o estado está correndo atrás de imagens que são solicitadas por agências (Reuters, Lancepress, Agência Estado); imagens para matérias aqui do Paraná - principalmente na área agrícola, na área de esporte, de política. A gente tem todo esse mercado.

(...) Eu acho que as pessoas não se deram conta ainda de que fotografia... Quanto mais pessoas verem a foto que você faz, ótimo. Só que isso tem que ser pago. Mas as pessoas, ultimamente, têm se contentado em mandar uma foto para a Gazeta do Povo e pedir simplesmente o crédito. ‘Não, eu só quero o meu crédito, o meu direito autoral’. Isso é muito errado. Os sites de notícias ganham dinheiro com isso. Os jornais ganham dinheiro com isso. E as fotos são dadas pra veículos que ganham dinheiro com isso.

(...) Eu trabalho em um jornal aonde chega muito material, porque as pessoas querem ter o simples prazer de ter uma foto publicada na Gazeta, ou no site Terra, ou no UOL. Elas já se satisfazem. Eu acho que esse caminho que a fotografia ta tomando é perigoso. Vai chegar um tempo em que ninguém mais vai querer pagar, ninguém mais vai querer contratar fotojornalista, porque vai depender do que tá na rua. Porque hoje todo mundo carrega uma câmera fotográfica ou um celular com uma qualidade de pixel, que hoje em dia está cada vez melhor. E os jornais e os sites de notícias se aproveitam disso. Você pega o Terra, por exemplo. Toda a capa do Terra gira de dez em dez minutos e você pode ver sempre imagens de leitor, de quem tá na rua e passa. Eu não sou contra ao cara mandar uma foto pro site ou pro jornal. Mas coloca preço nisso.

(...) Vocês são estudantes de Jornalismo. Acredito que algum percentual grande pode migrar para a fotografia. E o fotojornalismo do Paraná tá precisando também de gente mais capacitada, para melhorar a qualidade técnica e intelectual dos repórteres fotográficos de hoje. Até, sei lá, 10 anos atrás (mais ou menos isso), o repórter fotográfico era o motorista que era um pouco mais articulado, ou era o laboratorista que aprendia a mexer numa câmera e ia acompanhar o repórter. Hoje esse perfil tá mudando.

(...) Precisa de mais gente com capacidade que se forme na profissão de fotojornalista. Na Gazeta do Povo, hoje, por exemplo, já tá meio a meio – de formados e não-formados. E os não-formados não têm a mesma capacidade. Eu acho essa formação acadêmica importante. Os jornais também estão contratando, estão tendo essa preocupação em contratar como repórter fotográfico alguém que já tenha uma larga experiência em jornal ou revista, ou que tenha uma boa formação jornalística e que domine bem a técnica para o melhor aproveitamento. Muitos repórteres fotográficos hoje saem pra fazer uma foto quando o repórter não está junto. E o repórter fotográfico traz a matéria praticamente pronta.

(...) O casamento entre o texto e a foto é importante. As matérias que saem em jornais ou revistas onde não tem foto, o índice de leitura delas é pequeno. A foto tem o poder de dar a informação, de sintetizar a informação, e de dar credibilidade àquela informação. Em algumas matérias, uma boa foto é primordial.

(...) Eu acho que esse mercado, o mercado fotográfico, vai crescer ainda. E espero que dos formandos dessa universidade saiam, pelo menos, uns 20% de fotojornalistas”.

Um comentário:

Rafael disse...

Considero, ainda, valiosa a pergunta do Cleverson (3JOAN) sobre a possibilidade de um texto nascer da foto e de uma foto nascer do texto. Albari defendeu a idéia de que é mais provável um bom texto partir de uma boa foto jornalística. Outro comentário valioso foi sobre o fotojornalismo como diferencial no mercado da fotografia (distinto de fotos de vasos e flores, como brincou Albari).